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Cultura vigiada

Sujeitos: Resistência e repressão
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Tropicalismo: grande sensação cultural de 1968
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C omecemos com uma questão extremamente importante: quanto mais a ditadura brasileira reprimia, mais os artistas apresentavam uma enorme criatividade para demonstrar, por meio da música, teatro e cinema, uma oposição ao governo autoritário instaurado a partir de 1964.

Millôr Fernandes cunhou uma frase que expressa à estranha situação da cultura e das artes no Brasil entre 1964 e 1968: “Se continuarem permitindo peças como Liberdade, Liberdade, vamos acabar caindo em uma democracia.” O artista se referia à peça teatral de sua autoria, junto com Flávio Rangel, grande sucesso de 1965, que era uma grande colagem de falas sobre a democracia e a liberdade, dos gregos antigos aos contemporâneos” (NAPOLITANO, 2016, p. 97).
 
Nos anos de 1960 ocorria um significativo crescimento no mercado televisual e fonográfico, onde se destacavam artistas, tais como atores e compositores de esquerda, ligados à canção engajada que fazia sucesso nos festivais de canção dessa época. A ditadura era denunciada através de um marcante engajamento intelectual e artístico.

A primeira resposta cultural ao golpe se deu com o show Opinião, em dezembro de 1964 que questionava o governo com performances de artistas como o cantor oriundo do nordeste João do Vale, um sambista dos morros Zé Keti e a cantora de classe média urbana Nara Leão. Era um cenário em que a MPB (Música Popular Brasileira) surgia e se destacava fortalecendo a cultura engajada em tempos de muito autoritarismo. Para o autor Marcos Napolitano a área cultural foi vigiada, através de uma censura que impunha silêncios sobre temas e abordagens. Ele sistematiza três momentos repressivos sobre a cultura brasileira ao longo da ditadura militar que pretendemos compartilhar aqui com vocês.
O primeiro período de repressão à cultura brasileira se deu entre 1964 a 1968, cujo objetivo principal era romper as conexões entre as culturas de oposições e as classes populares. Essa estratégia era explicitada com o fechamento do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE (União Nacional dos Estudantes) e do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), órgão integrante do Ministério da Educação e Cultura. Era feito um controle de atividades intelectuais, por meio de inquéritos policiais e processos judiciais que transformavam os críticos em potenciais “subversivos”. Nesta primeira fase de perseguição à cultura brasileira, o campo mais vigiado foi o teatro, isso devido ao seu alcance social e a sua enorme capacidade de mobilização de intelectuais da oposição.

O segundo momento compreendeu de 1969 a 1978 que buscava reprimir a cultura mobilizadora da classe média. Era um período em que novas leis revelavam uma censura ainda mais sistematizada, com a Criação do Conselho Superior de Censura e o Decreto Lei nº 1.077, de 1970, que instaurou censura sobre materiais impressos. A Polícia Federal se organizava na aplicação de uma censura mais eficiente com uma divisão e ampliação do corpo de censores para controlar as informações que circulavam no país.
 
E o terceiro momento, deu-se entre 1979 e 1985, com vistas a controlar o processo de desagregação política e moral, isto é, a ênfase dada foi na “moral e bons costumes”. Nesses anos finais de ditadura ocorreu uma redução ao controle policial sobre a oposição cultural se comparado ao período anterior.

Convém destacar, que o ano de 1968 foi emblemático, pela efervescência que ocorria no Brasil e no mundo. As vanguardas sistematizavam as oposições em vários campos: cinema, artes plásticas e, principalmente, música. Uma grande novidade era a quebra da linguagem formal e a aproximação entre “arte” e “vida” em um diálogo que se estabelecia com a cultura de massa. A tropicália foi à síntese desse movimento.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NAPOLITANO, Marcos, 1964: História do Regime Militar Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2016.

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