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Segunda etapa do “Processo de reorganização nacional” – (1981-1982)

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E ntre o período de 1981 e 1982, a ditadura na Argentina passava por uma intensa crise, em um cenário marcado por um clima de mobilização social e política crescente. Em 24 de março de 1981, o general Videla foi substituído por Roberto Viola que assume a presidência e nomeia o ministro da economia Lorenzo Sigaut. Essa nova equipe enfrentava as consequências da falência do plano econômico adotado pelo grupo anterior. O novo ministro passava a contrair créditos externos, o que significou no enorme crescimento da dívida externa.

Roberto Viola se mostrava partidário de uma abertura política que, lentamente, permitiria a retomada das atividades de partidos políticos e sindicatos. Muitos dirigentes políticos começavam a acreditar na retomada da democracia no final de seu mandato, em 1984. Entretanto, membros da Junta Militar se mostravam favoráveis à continuidade do “Processo de Reorganização Nacional”. Assim, a abertura política se deu de maneira limitada, com muitas restrições à liberdade de expressão, a proibição de partidos políticos e a manutenção do estado de sítio. A repressão continuava atuando de forma atroz contra a oposição ao governo com desaparecimentos e mortes de muitas pessoas no final da ditadura argentina.

Dessa forma, diante da posição favorável à abertura política de Viola, a Junta Militar intensificou o controle sobre o governo. Em decorrência de um problema de saúde, o presidente nomeou interinamente o ministro general Liendo para assumir o poder, porém, no mês seguinte, a Junta Militar designou o general Leopoldo Galtieri como sucessor de Viola que representava a linha dura. A postura era de forte oposição ao peronismo e ao radicalismo do povo argentino, com o retorno da política neoliberal com o ministro da economia Roberto Alemann e uma maior aproximação com os Estados Unidos.

No entanto, a sociedade recuperava sua capacidade de atuação, fortemente abalada pelo autoritarismo da gestão de Videla, reagia de diversas formas, contra a repressão. Esse enfrentamento se deu também através da resistência cultural, com a publicação de revistas, programas de rádio e peças de teatro, acentuando as críticas ao governo contra a censura estabelecida.
O fracasso do plano econômico e o desprestígio do governo militar eram notórios em 1982, quando as Forças Armadas tomaram uma decisão com fortes impactos na vida política da Argentina: em 2 de abril decidiram desembarcar nas ilhas Malvinas para recuperar a autonomia do território ocupado pelos britânicos, desde 1833. O governo militar acreditava que essa investida provocaria a adesão da sociedade à ditadura, podendo recuperar a confiança do povo da Argentina.

Havia a expectativa da Grã-Bretanha não mobilizar suas forças para a defesa de um território tão distante e dos Estados Unidos apoiarem a Argentina neste conflito, dada a relação de cordialidade com o governo de Galtieri. No entanto, essas intenções foram totalmente equivocadas. A primeira ministra Margaret Thatcher deu início a intensas ações militares contra o exército argentino com o apoio dos Estados Unidos, seu aliado europeu na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).


Uma grande parte da população apoiava a guerra por considerar que era uma questão de reivindicação da soberania nacional. As autoridades militares demonstraram também forte apoio à Guerra das Malvinas, uma vez que seria uma forma de recuperar a confiança do governo em crise, a fim de manter-se no poder por um tempo mais prolongado. Contudo, o exército argentino era inexperiente e mal preparado frente ao exército inglês que, desde o início, apresentava superioridade diante do inimigo. Apesar das sucessivas vitórias inglesas na guerra, os meios de comunicação na Argentina transmitiam uma posição equivocada, alimentando esperanças pela vitória.
 
O papa João Paulo II visitou a Argentina, a fim de convencer o governo pelo fim da Guerra das Malvinas, conduzindo uma mensagem de paz ao povo. Dia 14 de junho, Benjamín Menéndez, general das Forças Armadas argentinas, apresentou a rendição. Era a maior crise vivida durante o regime militar. Em um pouco mais de dois meses de guerra mais de setecentas pessoas foram mortas e quase duas mil ficaram feridas. Os protestos aumentavam, assim como as violentas repressões.

Nos dias seguintes à rendição argentina, a Junta Militar discutiu a sucessão presidencial, decidindo que o governo seria de transição até 1984, sob o comando do general Reynaldo Bignone que ocuparia a presidência, com o apoio unicamente do Exército. Nesse cenário, os organismos de direitos humanos realizou a Marcha da Resistência, reivindicando notícias dos desaparecidos. O desdobramento mais impactante foi a jornada nacional de protesto contra a ditadura em 16 de dezembro que reuniu cem mil pessoas na Praça de Maio, ocorrendo muita repressão e o assassinato do manifestante Dalmiro Flores.


Em consequência da intenção dos militares de estenderem o poder até 1984, o desgaste do modelo econômico adotado, somado à derrota na Guerra das Malvinas e a mobilização social, fomentaram a convocatória das eleições para outubro de 1983. Foi dissolvida a Junta Militar em 6 de dezembro de 1983 e, em 10 de dezembro, imerso em muita euforia popular, assumia o presidente Raúl Alfonsín, eleito pelo voto popular, marcando a tão almejada volta da democracia.

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