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Sujeitos: Resistência e Repressão

Segunda etapa do “Processo de reorganização nacional” – (1981-1982)
novembro 1, 2018
CONADEP
novembro 1, 2018
 
A partir do golpe de Estado de março de 1976, a sociedade argentina vivia sobre o controle intenso do Estado que criava muitas estratégias de repressão e intimidação cotidianas para promover a despolitização dos indivíduos.

A repressão também fazia parte de um dos objetivos do golpe militar que era o denominado disciplinamento social, para tanto o governo criou mecanismos que violaram sistematicamente os direitos humanos, através de uma estrutura clandestina que prendia, matava, torturava e promovia o desaparecimento de muitas pessoas. Contudo, a sociedade também organizava formas de resistência ao regime repressivo, com manifestações à frente de repressão desde os primórdios do governo militar.
O Estado autoritário criou uma enorme estrutura repressiva integrada pelos chamados “grupos de tarefas”, isto é, organizações paramilitares e parapoliciais encarregadas de sequestrar, assassinar e torturar pessoas. Seus integrantes eram membros das Forças Armadas que controlavam centros clandestinos de detenção, ou seja, edifícios policiais e militares usados para prender, reprimir as oposições causando medo e terror na população. Nesses lugares eram cometidas as mais diversas formas de violência física e psíquica, provocando na maioria das vezes a morte.

O crime de subversão na ditadura argentina, que reafirmava a Doutrina de Segurança Nacional, abrangia “todo tipo de enfrentamento social”. O subversivo era aquele que, das mais diversas formas, expressava seu inconformismo com a situação política autoritária por meio da arte ou da cultura. Pelo próprio discurso de Videla, presidente argentino durante a ditadura militar, fica notório que o governo autoritário estava disposto a reagir com ampla violência à frente de oposições à ordem então vigente.
Entre as vítimas, podemos citar membros das organizações guerrilheiras, trabalhadores, estudantes, donas de casa, professores, artistas, etc., entre 20 e 35 anos de idade. Os agentes de Estado atuaram clandestinamente causando muitas mortes e desaparecimentos, resultando na produção do medo na vida cotidiana da população. Enquanto isso, a propaganda oficial reforçava a ideia de que o governo atuava na defesa da ordem contra a subversão.

Nesse cenário, as escolas foram intensamente vigiadas pelo Estado, pois a ditadura considerava que os jovens poderiam ser vítimas nesses espaços escolares do doutrinamento subversivo. Algumas disciplinas ficaram sob vigilância ainda maior, tais como História, Formação Cívica, Geografia e Literatura, além da perseguição e intimidação de muitos professores. O material didático sofria censura, sendo proibido o uso de recortes de jornais e revistas, bem como trabalhos realizados em grupos.
Os espetáculos públicos também passaram por uma enorme vigilância. O rock foi considerado um gênero musical subversivo, sendo proibidos muitos shows e muitas letras de canções censuradas. Apesar de toda essa repressão muitos músicos escreveram canções que criticavam a ditadura, surgindo um circuito artístico subterrâneo que se apresentava em bibliotecas populares, cine clubes como forma de resistência cultural.

Como parte da repressão cultural na Argentina, foram criadas as “listas negras”, com os nomes de atores, jornalistas e intelectuais que não podiam aparecer nos meios de comunicação. Muitas dessas pessoas foram exiladas. Já as obras censuradas foram sequestradas e queimadas pelos agentes da repressão.
Há de se destacar que o regime autoritário na Argentina (1976 – 1983) adquiriu uma feição extremamente atroz com sequestros e desaparecimentos de muitas vítimas. Elas eram encaminhadas para os Centros Clandestinos de Detenção e Extermínio, onde eram torturadas, assassinadas e enterradas ou atiradas ao mar nos chamados “voos da morte”. Essa prática de extermínio sistemático consistia em lançar de aviões os prisioneiros drogados em mares e em rios.
Segundo dados do Conselho Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas – CONADEP, existem na Argentina 8960 pessoas desaparecidas pela ditadura militar. No entanto, esse número pode chegar a quase 30 mil, uma vez que milhares não foram denunciadas à Comissão durante a elaboração de seu parecer em 1984-85. Desses desaparecidos, cerca de 6 mil pessoas foram vítimas dos “voos da morte”, de acordo com as confissões de militares julgados e condenados, como Adolfo Scilingo e Juan Carlos Francisco Bossi. Segundo os depoimentos desses réus, os voos eram realizados pela Marinha argentina todas as quartas-feiras, entre o ano de 1977 e 1978. Os responsáveis por esses crimes de lesa humanidade foram condenados na Argentina à prisão perpétua, dentre eles o ex-capitão Alfredo Astiz, chamado “anjo da morte” da ditadura argentina, um dos mais conhecidos rostos do centro de torturas da Escola Mecânica da Armada (ESMA) durante o regime.

Também estão desaparecidos 500 bebês, sequestrados com seus pais ou nascidos nos Centros Clandestinos de Detenção, Tortura e Extermínio e, posteriormente adotados por membros das forças de repressão. Engrossam esta lista 376 estrangeiros de 22 nacionalidades diferentes: uruguaios (120), chilenos (50), paraguaios (50), peruanos (40), italianos (28) e espanhóis (25) e sete brasileiros que desapareceram na Argentina entre 1976 e 1983. A Argentina é o país do Cone Sul com o maior número de estrangeiros desaparecidos.
Dessa forma, torturas físicas e psicológicas, partos forçados, sequestros de filhos de militantes oposicionistas que nasciam em hospitais militares ou CCD foram práticas comuns do terrorismo de Estado, desde o início da ditadura civil-militar argentina, gerando um trauma que perpassa por diferentes gerações.

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