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O que é Memória?

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A memória tem um caráter retrospectivo, haja vista que ela pode ser definida como uma recordação que é acionada quando a experiência está consolidada no passado. Portanto, é uma forma de lembrar o passado que tem duas funções de enorme valor: superar épocas, guardando seus elementos e preservar experiências que ligam diferentes gerações, a partir de tradições orais. Alleida Assman (2011) classifica o primeiro caso de memória cultural e o segundo, de memória comunicativa.

Salienta-se também a relação que se estabelece entre memória e identidade, partindo de uma perspectiva sociológica e voltando-se para as narrativas memoriais. À luz de Joël Candau (2016), rememorar é muito mais do que trazer o passado para o presente, trata-se de um instrumento para revisões, autoanálises e autoconhecimento e é por este caminho que a memória pode alcançar a identidade entre os membros de um grupo que compartilham determinadas recordações do passado. Vale informar as considerações do autor sobre a relação entre memória e identidade:
 
A memória é acima de tudo, uma reconstrução continuamente atualizada do passado, mais do que uma reconstituição fiel do mesmo: a memória é de fato mais um enquadramento do que um conteúdo, um objetivo sempre alcançável, um conjunto de estratégias, um estar aqui que vale menos pelo que é do que pelo que fazemos dele (CANDAU, 2011, p. 9).
A comunicação entre épocas necessita da preservação e da partilha de informações que supere os abismos causados, muitas vezes, pelo transcurso do tempo. Assim, o diálogo entre diferentes temporalidades pode ser interrompido quando um dado repositório de conhecimento partilhado se perde. Nesse sentido, estamos diante do complexo fenômeno da memória e suas variáveis ocorrências, já que ele não deve ser definido de forma unívoca, por nenhuma área do conhecimento.

Portanto, reconhecemos que o fenômeno da memória tem sido tratado intensamente nos últimos tempos, sobretudo, a partir dos anos de 1980, com olhares analíticos diversos que buscam compreendê-lo com recursos epistemológicos inerentes a cada campo. O tema memória tem sido abordado, sob leituras e técnicas cada vez mais densas, mostrando que os interesses transcendem os espaços de investigação, o que tem causado um fascínio duradouro nas ciências naturais, sociais e tecnologias da informação.
Ocorreu, uma profusão de abordagens do tema memória a partir dos anos de 1980 com a queda do muro de Berlim, fim das ditaduras na América Latina e fim do apartheid sul-africano, como é ressaltado por Huyssen (2000). Tais acontecimentos deixaram memórias traumáticas que resultaram na alteração da dimensão de espaço e tempo, contribuindo para uma cultura de memória em escala global.

Nos tempos atuais há uma “cultura de memória”, vivida a partir dos anos de 1980, com o acontecimento limite do Holocausto que permitiu que a memória fosse algo vivido e discutido intensamente. Outros acontecimentos das décadas de 1970 e 1980 também foram emblemáticos: o fim do Salazarismo em Portugal, das ditaduras na América Latina, queda do muro de Berlim e colapso da União Soviética. Esse período foi denominado por Hobsbawm (2008) de “Era da catástrofe” da angústia e do medo.

"...a memória é de fato mais um enquadramento do que um conteúdo, um objetivo sempre alcançável, um conjunto de estratégias..."

(CANDAU, 2011, p. 9)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSMANN, Aleida. Espaços da recordação: formas e transformação da memória cultural. Campinas: Editora da Unicamp, 2011.
CANDAU, Joel. Memória e Identidade. São Paulo: Contexto, 2016.
HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos: O breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
HUYSSEN, Andreas. Entrevista a Globo. Entrevistador: Guilherme Freitas. Rio de Janeiro, 2014.
_____________. Seduzidos pela memória. Arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro: aeroplano, 2000.

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